segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

I Fórum do Património do Douro - Valorizar património imaterial

O director do Museu Nacional de Etnologia defende, durante o I Fórum do Património do Douro, a valorização daqueles que dão a conhecer o património imaterial das diversas regiões. O responsável falou ainda sobre a importância de valorizar e preservar o património imaterial.

O director do Museu Nacional de Etnologia, Pais de Brito, defendeu a valorização daqueles que dão a conhecer o património imaterial das regiões, encontrando formas que vão além de colocar as suas informações num arquivo ou num museu.

Ao intervir sexta-feira, em Tabuaço, no I Fórum do Património Imaterial do Douro, Pais de Brito afirmou que este património não é “algo de absolutamente configurado, que preexista, expectante”, aguardando que o vão lá buscar. “Será um erro repetir hoje modos de recolha que passavam muito por este pressuposto, de o colector ser apenas o veículo que transportava para o caderno, o arquivo ou o museu coisas materiais ou imateriais que em qualquer lugar se encontravam”, considerou.

Segundo o investigador, “hoje a sua procura tem de transportar consigo um processo de partilha onde se redescobrem e se encontram novos sentidos para aquilo que se recolhe”.

Neste âmbito, defende a necessidade de a relação que, por exemplo, um etnógrafo estabelece com o seu informante ser “transposta para o acto do presente em que ela se processa, também enquanto criação social”, para que estes não fiquem “acorrentados” ao passado.

Em declarações à Agência Lusa, Pais de Brito afirmou que, actualmente, os etnógrafos podem “ir mais longe” do que os seus colegas dos séculos XIX e XX, valorando de forma dinâmica “os protagonistas do património imaterial”. Deu o exemplo de um homem de uma aldeia que sabe fazer instrumentos de música e é um grande tocador. “Ao recolher o seu saber, as indicações de construção ou as suas músicas, provavelmente pode ir-se mais longe e ele vir a ser um professor no Conservatório ou numa escola secundária e montar uma oficina onde ensine outras pessoas”, explicou.

Património oral

Também no património imaterial oral pode acontecer o mesmo, sem que se dê atenção “exclusivamente ao objecto oral em si, como a narrativa, o romance, o conto ou o provérbio que depois vai para um arquivo e pode ser consultado e estudado”, acrescentou. Lembrou que a designação de património imaterial é recente e que, mesmo os museus, não trabalhavam muito com esta dimensão.

“É agora a altura de pensar nas metodologias, até no modo de constituição dos arquivos, porque há meios tecnológicos mais sofisticados”, frisou, propondo, por exemplo, a gravação em vídeo da pessoa que transmitiu o saber oral e que “pode ser surpreendida e encantada com a sua voz já no museu ou no arquivo”.

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Novos desafios...... para velhas memórias

O I Fórum do Património Imaterial do Douro, dedicado ao tema “Novos desafios para velhas memórias”, decorreu no âmbito de um projecto-piloto, lançado este ano pelo Museu do Douro, que pretende fazer o levantamento, a salvaguarda e o estudo deste tipo de património da região. “A intenção do Museu do Douro é tratar o património imaterial como um repositório do saber popular, transmitido de geração em geração, que nos permitirá ir à origem dos mitos, das lendas”, justificou o seu director, Fernando Maia Pinto.

PJ, 2007-12-10
Visto em: Diário de Trás-os-Montes

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