segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Localidades do Nordeste Transmontano continuam a viver os rituais pagãos do solstício de Inverno

A magia do Inverno - Localidades do Nordeste Transmontano continuam a viver os rituais pagãos do solstício de Inverno

Ao longo dos séculos, as figuras pagãs dos rituais de solstício de Inverno têm sido vividas com bastante intensidade no Nordeste trasmontano. Os concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mogadouro e Vinhais são alguns destinos mais procurados por quem pretende partir à descoberta destes ritos de iniciação e fertilidade, numa espécie de turismo cultural e mitológico.

Estes rituais e mistérios pagãos conseguiram, mesmo, sobreviver, graças à vontade popular, às leis da Igreja que os chegou a proibir.

Estes eventos são, no fundo, festividades agrárias essenciais para a manutenção das comunidades rurais devido à superstição das gentes do campo.
Nas décadas de 50 e 60 do século passado, os Carochos, Belhas, Farandulos, Sécia e Moços estiveram à beira da extinção, dada a falta de pessoas devido à emigração que assolou a região, mas foram “salvos” pela vontade popular.

A aldeia de Constantim, no concelho de Miranda do Douro, é uma das localidades do distrito de Bragança onde este “Inverno Mágico” se vive com pureza e tradição.

A festa das Morcelas ou da Mocidade, dedicada a São João Evangelista, é um dos exemplos mais emblemáticos destes rituais que se prolongam até ao Dia de Reis.
Ainda o sol de uma manhã fria de Inverno não tinha nascido e já se ouvia o primeiro foguete a anunciar a alvorada e o início da festa.

Pauliteiros dançam como forma de agradecimento

Os actores principais, o Carocho e Sécia, saem à rua, acompanhados do toque de gaita-de-foles, caixa e bombo e dos pauliteiros, em busca de esmola para o jovem Santo.

“A simbologia das figuras assenta na família tradicional, onde o pai e a mãe são encarnados pelas figuras do Charolo e da Sécia que procuram esmola para a subsistência familiar num Inverno rigoroso que se aproxima”, explicou Aureliano Ribeiro, um dos zeladores da tradição.

O Charolo anda, assim, de casa em casa com uma espécie de pinça gigante nas mãos à procura de peças de fumeiro. Quando as coisas não lhe correm de feição avança com uma das suas investidas no intuito de amedrontar os menos atentos. “Às pessoas que colaboram, os pauliteiros retribuem com uma dança em sinal de agradecimento pela esmola”, adiantou o responsável.

As peças de fumeiros e outros produtos agrícolas recolhidos são os ingredientes para uma ceia comunitária que se serve à noite e que reúne os comensais que foram sendo convidados ao longo da ronda.

Francisco Pinto, Jornal Nordeste, 2008-01-07

Visto em: Diário de Trás-os-Montes

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