terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Bruçó vive a Festa dos Velhos

População sai à rua no dia de Natal para cumprir a tradição que passa de geração em geração

Logo pela manhã, saem à rua dois casais singulares. De um lado está o Soldado e a Sécia e do outro um par de Velhos, todos mascarados e vestidos a preceito. Esta é a tradição que marca o dia de Natal na freguesia de Bruçó, no concelho de Mogadouro.

Com estas figuras pagãs, cuja origem se perde nos tempos, começa a função cénica.
O povo interage para dar vida ao cortejo com um objectivo único: a diversão. Além disso, também ajuda na colecta que reverte a favor do altar de Nossa Senhora, que, no fundo, é o pretexto para este ritual de origem pagã, mas, ao mesmo tempo, burlesco e teatral.

É de manhã bem cedo que as pessoas encarnam as figuras do ritual. Primeiro reúnem-se em casa da mordoma-mor para assumirem os respectivos papéis. É uma manhã de verdadeiro corrupio, que se torna desgastante.

Para vestir os trajes são escolhidos os rapazes mais atléticos de cada geração. A escolha dos personagens é feita de forma sigilosa, já que o secretismo é uma das condições para animar a festa, uma tradição que dá azo à imaginação e, até, a algumas apostas.
Já na rua, as personagens ganham vida própria e os actores começam a sua tarefa. A Sécia, sempre protegida pelo Soldado, é uma mulher “mundana e de vida fácil”, que leva ao colo uma boneca para simular um bebé.

Festas do Solstício de Inverno ameaçadas pela falta de jovens para encarnarem as personagens

Ao longo do jogo, a Sécia vai sendo assediada pelos rapazes com mais coragem, já que o valente Soldado, para proteger a sua dama, vai atirando valentes “cinturadas” com um cinto de cabedal grosso. Pelo meio há palavras obscenas e provocatórias: “Maria vais com todos sua galdéria ”. A isto o soldado reage com pancada para limpar a honra, já que a intenção da rapaziada é “roubar a Sécia ao marido”.

O par de velhos procura manter a ordem pública durante o cortejo. De cajado na mão, vão perseguindo os provocadores e limpando a rua das bexigas de porco cheias de ar, que servem para os atazanar.

Apesar do esforço em manter a tradição, os mais antigos dizem que a festa “já não é o que era, visto que foram introduzidos novos elementos e as vestes e máscaras já não são tão genuínas”.
No entanto, o principal inimigo das festas do Solstício de Inverno é a falta de jovens para darem vida às personagens.

Francisco Pinto, Jornal Nordeste, 2008-01-08
Visto em: Diário de Trás-os-Montes

Sem comentários: