quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Apanha de cogumelos sem controlo

Pantorra afirma que colheita é efectuada de forma muito intensiva e sem qualquer tipo de regulamentação

A colheita de cogumelos silvestres de forma muito intensiva e descontrolada está a preocupar a Associação Micológica «A Pantorra».

Segundo esta organização, a forte procura de cogumelos representa riqueza para a “meia dúzia de colectores e intermediários que vêm em carrinhas e os recolhem nas aldeias, normalmente pagando muito pouco face ao valor do produto no mercado”, denuncia o presidente da Pantorra, Francisco Martins.

Ao contrário do que acontecia antigamente, em que os cogumelos estavam associados a populações rurais e à pequena economia doméstica, hoje existem “apanhadores” que vêm de fora, empresas de comércios ou transformação. A produção deixou, assim, de ser um bem natural de determinada região, para passar a ser alvo de cobiça de pessoas que chegam de diversos locais em busca de cogumelos que são vendidos a “peso de ouro”.

A situação em Trás-os-Montes é motivo de preocupação, devido à apanha descontrolada, que poderá colocar em risco o futuro das espécies mais procuradas e, consequentemente, afectar a débil economia ligada a este sector. “Há mais gente a colher cogumelos e apanham logo que aparecem, sem os deixarem desenvolver. Não há regras de colecta e apanha-se à toa”, acrescenta Guilhermina Marques, docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Colheita de cogumelos em Espanha está regulamentada e organizada

Ao contrário do que se passa em Portugal, nalgumas regiões de Espanha a colheita e comercialização de cogumelos está regulamentada de modo a organizar e normalizar a recolha.

Neste sentido, a Associação para o Desenvolvimento de Aliste, Tábara e Alba, com o apoio do Ministério da Agricultura e da Junta de Castela e Leão e enquadramento científico do Instituto de Restauração e Meio Ambiente, criou um guia com conselhos e regras quanto à recolecção e consumo de cogumelos.
Deste modo, os espanhóis conseguem valorizar o seu produto, a partir desta organização e aproveitamento, bem como através da descoordenação portuguesa neste sector, que lhes permite adquirir cogumelos a preços inferiores, levando à sua subvalorização.

Para que esta situação deixe de se verificar, é necessário transformar os cogumelos silvestres num produto tradicional e num recurso com vista ao desenvolvimento local. Assim, é urgente conhecer o produto e a melhor forma de o utilizar, através de estudos, criar regras para um uso sustentável, bem como alertar para as boas práticas de comercialização e transformação. Estes são alguns dos assuntos que fazem parte de investigações levadas a cabo pela UTAD.

Sandra Canteiro, Jornal Nordeste, 2007-11-29
Visto em: Diário de Trás-os-Montes

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