Nas minha deambulações pelo nordeste à Descoberta das paisagens costumes e tradições, não estava prevista uma passagem por Urrós (Mogadouro) no dia 3 de Junho de 2010, mas foi isso que aconteceu. Deslocava-me de Miranda do Douro para Mogadouro, quando, à passagem pela Estação, decidi fazer um desvio para visitar Urrós, que sabia estar em festa.
O objectivo era beber alguma coisa fresca com um amigo, natural da aldeia, mas a residir em Miranda do Douro e seguir viagem, mas não foi isso que aconteceu.
A paragem aconteceu junto à capela de S. Sebastião onde já tocava um conjunto. Havia alguns pares mais animados a dançarem e um bar onde bebi a tal bebida fresca, com alguns tremoços a acompanhar.
Pedi que me abrissem a porta da capela para fazer algumas fotografias o que me foi concedido. Esta capela foi alvo de um interversão recentemente. Apenas havia um pequeno altar onde estava a imagem de S. Sebastião. Agora toda a parede em volta do altar está revestida com bonitos elementos vegetalistas dourados. A festa a S. Sebastião acontece no 3.º domingo de Agosto e é a principal festa da aldeia. Costuma haver tourada, mas fiquei bastante satisfeito no ano em que os touros fugiram (não pelo pânico que provocaram, mas por se libertarem).
A festa agora em questão é em honra de Nosso Senhor mas também é a Festa do Gaiteiro e vamos perceber porquê já de seguida.
Quando me preparava par ir embora notei alguma movimentação no recinto do baile. Chegaram os gaiteiros e ouviu-se o tão característico som da gaita de foles do Planalto Mirandês. Este som deve ter activado algo nas pessoas porque, novos e velhos, começaram imediatamente a dançar! Passaram para a estrada e formaram duas filas, paralelas, com os gaiteiros atrás. Começaram a dançar rua abaixo.
Tinha duas opções: uma, esquecia a dança, entrava no carro e ia-me embora; segunda, juntava-me aos foliões, gozando a festa, tentando perceber o seu significado. Como devem perceber, optei pela segunda hipótese.
A dança é muito simples: após alguns passos no sentido da marcha, ao longo da rua, todos se cruzam alternando de fila, com um bonito efeito. As filas eram constituídas por pessoas de todas as idades e de todos os estratos sociais. Unia-os a alegria e a vontade se dançar.
Alternei momentos de dança com algumas pausas para tirar fotografias à medida que mais gente se ia juntando e outros iam apreciando o "baile" que passava. Soube, mais tarde, que estava a dançar as chulas.
Depois de algum tempo de dança, já com o sol muito baixo no horizonte, o grupo parou junto a uma casa que tinha uma mesa posta à porta. Havia bolos, económicos, tremoços, sumos, vinho e cerveja. Nos momentos que se seguiram aproveitei para saber mais alguns pormenores da festa.
Tudo começou muito cedo, com um foguete, que anunciou a chegada dos gaiteiros que deram volta à aldeia anunciando a festa. Depois do pequeno almoço, nova volta à aldeia acompanhando o mordomo que pedia "para o Santo". De tarde houve missa e festa popular que estava a acontecer quando eu cheguei junto da capela de S. Sebastião.
A dança começa junto da capela, desce a rua e termina junto à casa do mordomo que brinda os populares com tremoços, bebidas e o que mais quiser dar.
A minha presença, desconhecido e muito atarefado a fotografar, despertou alguma curiosidade mas fui bem aceite por todos, até pelo mordomo que me convidou para sua casa.
Aproveitei também para conversar um pouco com o gaiteiro José Maria Fernandes (Tio Rito), um dos mais exímios tocadores de gaita de foles da actualidade, que também compareceu com o seu instrumento mas que não chegou a tocar, dando espaço a outra geração de tocadores.
Não aceitei o convite do mordomo, ele tinha mais pessoas com que se preocupar, mas acabei por jantar em Urrós em casa do amigo que tinha ido visitar (o mesmo que "abandonei" junto à capela de S. Sebastião quando se iniciaram as chulas!).
À noite houve arraial, mas eu já tinha Descoberto os aspectos mais característicos das festas do Nosso Senhor, em Urrós. Segui viagem...
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