Já há algum tempo que acalento a ideia de fazer algumas caminhadas ao longo do curso do Rio Sabor e do Rio Tua, principalmente nos troços que a EDP pretende afogar. Se no Rio Tua a coisa tem sido fácil, utilizando a Linha do Tua como percurso, no Rio Sabor as caminhadas são mais complicadas e não têm acontecido como o desejado. Já fiz muitas caminhadas no termo da freguesia de Brunhoso e no dia 13 de Outubro de 2009 visitei Silhades, na freguesia de Felgar.
Recebi o convite de uma amigo para fazer o reconhecimento de um percurso no termo das freguesias de Remondes e Brunhoso. Mesmo com algumas dificuldades de agenda, no dia 2 de Abril rumei para Brunhoso, para fazer o percurso no dia seguinte.
Deslocámo-nos de automóvel para a ponte de Remondes, no dia 3 de Abril, 4 pessoas, para fazermos o reconhecimento de um trajecto de cerca de 8 quilómetros para jusante. O dia estava agradável, quente e com alguma neblina. Da extremidade do tabuleiro da ponte parte um caminho bastante bom e muito utilizado pelos agricultores para acesso às oliveiras, por onde seguimos.
No primeiro quilómetro o declive é bastante acentuado, ainda com a ponte à vista, mas depois o caminho mantém-se praticamente entre os 300 e os 400 metros de altitude durante alguns quilómetros.
A minha atenção dividiu-se entre a paisagem para o rio e a flora que ladeava o caminho, bastante florida, por sinal.
Entre madressilva, medronheiros, espargos, bucho e outros afins, fui descobrindo algumas plantas que me não estava muito habituado a encontrar. A certa altura pareceu-me ver uma orquídea, mas não quis acreditar. Nunca tinha visto uma orquídea selvagem e, depois de mais de uma década a caminhar nesta zona sem nunca ter observado nenhuma, não me pareceria que as fosse encontrar. Mas enganei-me. Pouco depois encontrei outra planta, mas, esta, em flor. Não tive mais dúvidas eram mesmo orquídeas selvagens. Por informação que recolhi posteriormente, trata-se da espécie Ophrys-Scolopax, por sinal bastante bonitas. Encontrei mais de uma dúzia de pés de orquídeas, ainda no início da floração, distribuídos por dois locais. Embora tenha tido muita atenção no resto do percurso, não voltei a encontrá-las. Vi muitas vezes o Jacinto-dos-campos (Scilla monophyllos), também bastante bonitos.
Na encosta em frente, no outro lado do rio corria um ribeiro em pequenas cascatas de espuma branca. Vem de Castro Vicente. Descemos um pouco e aproximámo-nos mais do rio. Uma lápide em mármore no berma do caminho lembrava alguém falecido.
Perto do meio-dia estávamos a chegar junto das casas que existem no Azinhal. Eu procurava afincadamente ramos de raposa ou rosa albardeira (Peonia broteroi). Encontrei, por fim, alguns pés, mas ainda não estavam em flor.
A hora de almoço aproximava-se e notei algum desalento nos meus acompanhantes. Passou por nós uma pickup. Questionámos o condutor sobre um caminho que nos conduzisse à Barca, já no termo de Brunhoso, mas o condutor não nos soube orientar. Decidimos aproveitar a boleia e seguir em direcção a Remondes.
Segui com o grupo até uma zona chamada Amedo, mas os meus planos eram outros. Estava preparado para caminhar até ao fim do dia e não estava disposto a ficar-me pela manhã. Despedi-me dos colegas e comecei a descer em direcção ao rio. A certa altura achei que o reconhecimento do caminho não estava a ser feito em condições e volteia pé ao ponto onde apanhámos boleia na pickup. Era uma da tarde quando aí cheguei. Aproveitei para comer alguma coisa enquanto explorava o espaço onde situam as construções. Este foi um local importante de trabalho para muita gente de Brunhoso e Remondes. No Azinhal trabalhavam por vezes grupos de 60 pessoas, no pico da apanha da azeitona. Toda a encosta está repleta de oliveiras, muitas delas ainda cultivadas. As construções onde viviam os caseiros e alguns trabalhadores estão agora bastante deterioradas. Apesar de aqui não haver luz eléctrica pereceu-me haver cabos para telefone! O local é bastante acolhedor, com muita sombra, água e uma fonte bastante engraçado de onde dizem que brota sempre água fresquinha.
Depois de um curto descanso, retomei a busca do caminho a seguir para chegar à barca. Não me foi difícil encontrá-lo. Menos de um quilómetro à frente consegui já avistar o rio, a Barca, o Picão, o Poio e todos os montes já meus conhecidos. Senti-me em casa.
Pouco depois encontrei uma variedade de cistus florida, creio que era o Cistus cripus.
Às duas horas da tarde cheguei à barca. Tinha percorrido 8 quilómetros e já sentia algum cansaço. Cada vez havia mais nuvens, mas sempre que o sol aparecia queimava a pele.
O meu objectivo era apanhar boleia numa carrinha que devia estar no Picão com algumas pessoas a deitarem herbicida nas oliveiras. Quando atingi o alto deste cume, depois de muito esforço, avistei ao longe a carrinha que já tinha partido em direcção à aldeia. Como o telemóvel não funcionou, limitei-me a vê-la desaparecer ao longe.
Não restou outra alternativa senão caminhar até Brunhoso. Foram mais alguns quilómetros por caminhos já bastante conhecidos e com pouca disposição para mais fotografias. A tarde foi ficando cada vez mais cinzenta e o céu perdeu toda a cor.
Mesmo sem estar previsto, caminhei mais de 15 quilómetros! Valeu-me a experiência, porque vou sempre preparado com comida e água para qualquer eventualidade. Como a caminhada se destinava ao reconhecimento do percurso, o objectivo foi atingido, bastava agora esperar que no dia 24 de Abril, já com muitos participantes, as condições atmosféricas estivessem de feição. Desse dia vou dar notícias brevemente.
Mapa do percurso
1 comentário:
Muito bonitas as fotografias e a descrição da jornada.
Fantásticas ladeiras.
Tremendos desígnios de quem as desbravou. Pesada herança a nossa.
Tivesse eu bom pé! e terias companhia.
Parece-me que somos cada vez menos a apreciar estas ladeiras.
Um abraço
f ribeiro
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