segunda-feira, 7 de junho de 2010

À Descoberta do Rio Sabor (II)

Já passou mais de um mês desde a minha caminhada ao longo do rio Sabor, as flores possivelmente já secaram, o caudal diminuiu, mas não quero deixar de partilhar algumas das emoções que senti quando a realizei.
A caminha integrava a um evento mais vasto, de dois dias, organizado pela empresa Javsport, com o nome Passeio ao Sabor Desaparecido. À frente desta empresa de eventos “radicais” está um amigo de Brunhoso, com quem já tinha falado várias vezes de como seria entusiasmante percorrer o Rio Sabor que a EDP e o PS tanto fazem questão de afogar.
Assim, apesar de eu não puder participar no fim de semana do Passeio ao Sabor Desaparecido (já tinha planeado estar no dia 24 de Abril na V Rota da Liberdade em BTT, em Vila Flor), fiz todos os possíveis por poder participar no dia 24 na caminha entre a Ponte de Remondes e Salgueiro/Paradela.
Fui o primeiro a chegar à ponte de Remontes, vindo de Macedo de Cavaleiros. Estava um sol magnifico e não sou capaz de me sentar à sombra e esperar. Comecei a caminhar para montante da ponte, apreciando a vegetação que estava algo de excepcional. Quase todos os participantes na caminhada vieram do Porto, num autocarro que chegou perto da uma da tarde. Antes da caminhada começar todos retemperaram forças.
O grupo era muito heterogéneo, em idades e em condição física. O início foi um dos pontos de maior declive e alguns ressentiram-se imediatamente da dificuldade. Pouco tempo depois, já a meia encosta e com mo grupo bastante partido, entrou-se no ritmo certo que nos levaria ao Salgueiro.
Como conhecedor da região e do local, porque tinha feito o mesmo percurso poucos dias antes, acompanhei alguns dos participantes mostrando-lhes algumas das curiosidades da paisagem e particularidades das espécies florestais. Em cerca de 60 participantes havia pessoas das cidades, habituados aos escritórios, mas também havia transmontanos de nascimento e vivência com quem troquei muitas conversas sobre o puder medicinal e gastronómico de algumas plantas.
Um dos pontos altos da caminhada foi quando mostrei a um bom grupo de pessoas uma área de alguns metros quadrados com muitos pés de orquídeas em flor. Havia muitas mais do que aquelas de que me apercebi na minha primeira passagem pelo local.
O percurso foi sendo feito a passo muito lento, com muitas paragens para esperar pelos mais atrasados.
Pouco depois das quatro da tarde estávamos na Barca, no termo de Brunhoso. A alguns apeteceu-lhe um mergulho nas águas frescas do rio, mas não havia tempo para isso. Depois de algum esforço para subir ao Picão, nova descida desta vez para o Cachão. Eu gostaria que as pessoas fossem mais de vagar, apreciassem a paisagem que tão bem conheço, mas à medida que as horas iam passando e o sol queimando as costas, a preocupação com o caminhar ia-se sobrepondo à beleza dos locais. Nem todos transportavam a água suficiente de que necessitavam e houve necessidade de partilhar e racionalizar a existente. Havia uma pessoa que já transportava um saco cheio de espargos. Estava fascinado com a sua abundância.
Passada a ribeira junto ao Cachão, onde o rio rasga há milénios as rochas mais rijas do xisto, já pouco restava para chegarmos a caminho que nos conduziria ao Salgueiro. Esta parte do percurso era nova para mim, nunca aqui tinha passado.
Tinha ouvido falar num moinho recuperado, que ainda funcionava! Imaginava um moinho como tantos outros, encerrado numa casa em xisto, com um açude a prender as águas que fariam girar com vigor as mós. Não havia casa nenhuma! O moinho é muito rudimentar, mas estava à vista e fez as delícias de todos os fotógrafos (penso que éramos todos os presentes!).
Eram seis da tarde e faltava-nos a parte mais ingrata do percurso. Cerca de 4 quilómetros que nos levariam dos 190 metros de altitude até aos 600 metros. O calor da tarde estava a esvair-se, mas, mesmo assim, foi lenta a subida. Foi preciosa a ajuda de um todo-o-terreno de apoio que forneceu água fresca (até algumas cervejas!) que deu alento para os últimos quilómetros. Depois de chegar ao lugar do Salgueiro, foi necessário esperar que se juntasse toda a gente, o que demorou ainda algum tempo. Aproveitei o compasso de espera para visitar alguns conhecidos, que não esperavam por mim ali.
Já com todo o grupo no autocarro, o mesmo saiu para a Junta de Freguesia de Paradela onde iria ser servido o Jantar. Tinha algumas expectativas quanto à ementa, mas devo dizer que o que nos foi servido as ultrapassou bastante. De entrada havia presunto, azeitonas, chouriço e alheira assada na brasa. Depois foi servido javali estufado com batata cozida acompanhados por uma salada de azedas e conqueiros. Esqueci-me de referir que também foi servido como entrada, pão caseiro, ainda quente, para molhar no azeite. Não provei a iguaria, mas a maior parte dos presentes deliciou-se e compraram de imediato uma boa quantidade de pães para levarem para casa.
Como segundo prato foi servido cabrito assado. Para alguns que não se davam com a carne foram preparados peixinhos do rio com molho de escabeche, mas foram poucos os que se negaram ao javali. Foi de comer e chorar por mais.
Durante do jantar discutimos várias coisas, entre as quais o prometido desenvolvimento com a construção da barragem do Sabor. Havia ideias muito contrárias. Uma coisa ficou clara: se já existisse uma barragem no Sabor, nenhum de nós ali estaria para apreciar aquele vale magnífico.
Na mesa das sobremesas esperavam as melhores iguarias que se produzem por estas terras: queijo, doce de abóbora, arroz-doce, pudim, marmelada e fruta. Esqueci a dieta (por isso não comi o pão molhado no azeite) e provei um pouco de tudo.
Os responsáveis por tão fato e requintado jantar aproveitaram ainda para vender algumas lembranças, pequenos ramos de flores de tecido e espigas de trigo, e desta forma angariar alguns euros para a festa do Verão.
Descemos, depois ao bar para tomarmos um café.
Foi um dia fantástico. A caminhada foi uma delícia para os olhos e o jantar foi memorável para os sentidos. O autocarro conduziu os participantes para Mogadouro, onde iriam pernoitar para se recomporem para nova caminhada no dia seguinte e eu parti para Vila Flor, ao encontro da Rota da Liberdade que juntou e algumas centenas de ciclistas de todo o país.
São dias assim que justificam o porquê de valer a pena de vivermos neste cantinho “atrás do sol posto”.

Percurso
GPSies - PonterRemondes_Salgueiro

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá amigo Antero. Não imagina como fiquei contente ao ler o texto e ver estas fotos. Não conheço essa parte, pelo menos no seu todo. Também eu adorava as caminhadas, mas na serra da Lousã que também é muito interessante. Não sou tão bom fotografo e sou um desastre a postar fotografias, pelo que nem vou tentar. Agora estou impedido de retomar as caminhadas, pelo menos na extensão em que o Grupo de Caminheiros da Fundação ADFP as fazia. O treino e os médicos não deixam.
Um abraço
J.Bártolo

Anónimo disse...

decidamente houve aqui um lapso.Ito era suposto ser para outro blogue. De qualquer forma obrigado pelas fotos.
J-Bártolo