segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Indianos,paquistaneses e chineses aprendem português e dizem que transmontanos são mais honestos

«Um grupo de 15 chineses, paquistaneses e indianos acaba de concluir, na vila de Mogadouro, um curso de formação de quase meio ano em que aprenderam a língua portuguesa e cidadania. «Os transmontanos são mais certos, não são mentirosos«, diz Harjinder.

Harjinder deixou a Índia aos 16 anos e já passou quase outro tanto tempo da sua vida a trabalhar na Europa. Viveu em França, na Alemanha, na capital portuguesa, mas foi na pequena vila de Mogadouro, no Nordeste Transmontano que viu pela primeira vez azeitonas e encontrou a oportunidade que procurava ao imigrar do seu país.

“Os transmontanos são mais certos, não são mentirosos”, garante o conterrâneo Hargans, exibindo um certificado de curso que marca mais uma etapa na vida de ambos e de outros imigrantes que vivem, há vários anos, na localidade transmontana.

Curso de formação em português e cidadania

Um grupo de 15 chineses, paquistaneses e indianos acaba de concluir um curso de formação de quase meio ano em que aprenderam a língua portuguesa e cidadania. Esforçaram-se todos o suficiente para serem agora capazes de manterem um diálogo em português e vencerem mais uma etapa na integração numa terra estranha que os acolheu “sem problemas”, garantem.
O gabinete municipal de apoio ao imigrante quis com este curso demonstrar o seu empenho na integração destes cidadãos de “terras tão longínquas”, segundo o vice-presidente da autarquia, João Henriques.
O autarca contou que, em 2005, contabilizaram mais de uma centena de imigrantes a residirem no concelho de 14 nacionalidades.

Curiosamente naturais de países diferentes do que é habitual e em que predominam os cidadãos de Leste.
Indianos, paquistaneses e chineses são as nacionalidades com maior visibilidade, que encontraram nesta vila estabilidade embora, alguns em empregos precários.

Fazer o trabalhos que os outros não querem
Comércio e construção civil são as áreas de trabalho destes imigrantes, que confessaram à Lusa que, apesar de “nem tudo ser bom”, foi em Mogadouro que encontraram “honestidade” depois de passarem por diversos patrões noutras localidades, que nem sempre cumpriam com os seus deveres.

O indiano Hargans pensa já em trazer a mulher e a pequena filha para Portugal, um processo que acredita será agora mais fácil por dominar melhor a língua portuguesa.

Todos reconhecem, no entanto, as dificuldades burocráticas e políticas, maiores com cidadãos destas nacionalidades.
Este curso de iniciação vai ter continuidade com mais formação para aprofundamento dos conhecimentos agora adquiridos e o paquistanês Mohamed Asraf está já a pensar continuar a estudar.

“É gente esforçada e trabalhadora” assegura a formadora Paula Sá que teve com este grupo a primeira experiência de formação a cidadãos estrangeiros.
A formadora elogia sobretudo o empenho destes formandos que “muitas vezes iam do trabalho para a formação e só jantavam depois das onze da noite”.
Apreenderam em horário pós-laboral, de segunda a sexta, entre as 20h e a s 23h.

Em Mogadouro fazem o trabalho que as gentes locais não querem, segundo o vice-presidente da autarquia, enquanto muitos dos naturais do concelho partem para outras paragens à procura de novas oportunidades de vida.

Estes imigrantes chegaram à vila transmontana através de familiares, amigos ou conhecidos que já tinham ouvido falar do “sossego” desta terra.
O curso de formação para a integração sócio-profissional de imigrantes foi apoiado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) que já garantiu a continuidade desta aprendizagem.

Para o director regional do instituto, Fernando Calado, “se esta região não for capaz de receber cidadãos de todo o mundo, o Distrito de Bragança será dentro de pouco tempo uma realidade que assusta”.
Fernando Calado vê nestes cidadãos um contributo para inverter o processo de despovoamento de um distrito que tem apenas quatro mil crianças a frequentarem as escolas do primeiro ciclo.
Daí o agrado das entidade locais com o pequeno Tiago, um mogadourense de um ano e meio, filho de jovens comerciantes chineses, que frequentaram a formação e se radicaram nesta localidade.

Lusa/PJ, 2007-12-03
Visto em: Diário de Tás-os-montes

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