quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Azeite: Investigador da UTAD cria processo inovador de tratamento de resíduos dos lagares

Vila Real, 27 Nov (Lusa) - Um investigador da Universidade de Vila Real é o autor de um processo "inovador" de tratamento dos resíduos e efluentes dos lagares de azeite das grandes e pequenas unidades industriais, foi hoje anunciado.

João Claro, professor e investigador do departamento de química da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), disse à Lusa que os resíduos derivados da produção de azeite, as designadas águas ruças, são "altamente poluentes e continuam a ser um problema ambiental".

O responsável salientou que aqueles efluentes "têm uma carga poluente 200 vezes superior ao esgoto doméstico, causando, por isso, graves problemas ambientais".

O investigador disse que o novo processo é "tecnologicamente pouco complexo" e consiste em aplicar aos efluentes dos lagares de azeite resíduos da indústria corticeira, resultando num produto "cem por cento natural e orgânico".

"Mistura-se o pó de cortiça, que absorve e incorpora todos os compostos orgânicos das águas ruças e de outros resíduos de lagares de azeite, dando origem a uma espécie de pasta ou lama", explicou.

Com este método poderá também ser revolvido parte do problema dos resíduos da indústria corticeira nacional, que produz anualmente cerca de 90 mil toneladas de pó de cortiça.

"Para tratar todos os efluentes a nível nacional, seram necessários 20 mil toneladas de pó de cortiça", salientou.

O produto final da operação poderá ser utilizado como fertilizante, ou componente de fertilizante, para rectificar a alcalinidade dos solos e também para a produção de biomassa, combustível destinado à produção de energia.

De acordo com o investigador, "alguns processos existentes de tratamento dos efluentes só resolvem parcialmente o problema, ou porque são processos muito caros ou porque exigem grande complexidade técnica".

João Claro garantiu que a sua invenção poderá ser aplicada e é acessível a grandes ou pequenas unidades industriais.

"Poderá ser criada uma linha de montagem para servir várias unidades industriais ou poderá ser aplicado apenas num lagar, aproveitando os tanques instalados nestas unidades para fazer a mistura, até de forma manual, deixando-se, depois, secar ao sol", frisou.

O Gabinete de Apoio à Promoção da Propriedade Industrial, instalado desde Fevereiro na UTAD, ajudou João Claro a patentear a sua invenção.

É também através da UTAD que se pretende obter apoio do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) para financiar a aplicação deste processo.

"Poderá agora ser dado um grande impulso com a o próximo quadro comunitário que está a libertar verbas para apoiar precisamente processos destes, inovadores e apoiados em tecnologias novas", referiu.

João Claro conta com a parceria da Cooperativa de Olivicultores de Murça e de empresas que vão construir centrais de biomassa na região transmontana.

O presidente dos Olivicultores de Murça, Alfredo Meireles, referiu que, actualmente, a cooperativa está a vender a "preços muito reduzidos" as toneladas de bagaço húmido (bagaço e águas ruças) que são produzidos em cada campanha.

Esses resíduos são utilizados para a produção de óleo de bagaço, que tem como principal destino o mercado espanhol.

A remodelação do sector olivícola que se verificou em Portugal nos últimos anos levou ao encerramento, só na região transmontana, de várias dezenas de lagares de azeite.

Segundo dados da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), em 1994 estavam em laboração em Trás-os-Montes e Alto Douro 243 lagares, tendo algumas destas unidades encerrado devido às exigências da União Europeia relativamente ao licenciamento e às novas exigências ambientais.

Este ano, estão em funcionamento cerca de 110 lagares de azeite.

No entanto, a capacidade instalada na região não sofreu alterações significativas, uma vez que as unidades desaparecidas deram lugar a outras, de maior dimensão, com novas tecnologias, melhores condições estruturais, adaptando-se às exigências da legislação em vigor para o sector, nomeadamente em termos ambientais.

Cerca de 70 hectares da região transmontana estão ocupados por olival, que se geram uma produção média anual de 13 toneladas de azeite.

Na região transmontana existe uma área de produção de azeite com a denominação de origem protegida "Azeite de Trás-os-Montes", que ocupa 71 por cento da área do olival para azeite deste território.

Segundo a DRAPN, os dados disponíveis até ao momento indiciam que campanha deste ano registará uma quebra entre os 25 a 30 por cento na produção de azeitona para azeite, comparativamente a ano anterior.

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2007-11-27 15:55:01
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